sábado, 24 de setembro de 2016

uma música para o fim de semana - Septeto de Tomás Pimentel


Este é o primeiro fim de semana desde que o Outono chegou.
Não há a opressão do calor, da luz excessiva, do cansaço que se instala no corpo e na mente.
Passamos de uma estação que se sente com o corpo para outra que é apreciada pelos sentidos.
Uma que é física para outra que é espiritual.

O verão invade e assola-nos, o Outono pede licença.
A riqueza do Outono é imensa. Sem a cortinas veranis que embaciam, cegam os sentidos, descobrimos nuances de cores até então desconhecidas, os aromas desdobram-se nas cores do arco-íris, percebemos que o vento tem várias personalidades, e que é mais agradável sentir a pele molhada da chuva do que do suor.


O tema Raíz do álbum Descolagem de 1994 do septeto do trompetista de Tomás Pimentel, é a chegada do Outono, da sua delicadeza.
Nenhum instrumento se sobrepõe relativamente aos outros de uma forma dominadora ou invasiva. Podemos apreciá-los um a um.
É uma conversa entre eles. Já não numa esplanada, em tronco nu ou em biquíni, debaixo de um chapéu de sol, mas sim num bar com musica ambiente e alguns cachecóis ao pescoço, enquanto uma chuva quase imperceptível cai lá fora.

Fazem parte do septeto:

Tomás Pimentel - trompete e fliscornio
Jorge Reis - saxofone alto e soprano
Edgar Caramelo - saxofone tenor 
António Pinto - guitarra
João Paulo Esteves da Silva - piano
Mário Franco - contrabaixo
Alexandre Frazão - bateria

Bom fim de semana :)






sexta-feira, 23 de setembro de 2016

série "Vencedores" - Jóse Macedo





Chama-se José Carlos Macedo e medalhas no boccia é com ele. Antes de conquistar a terceira medalha de bronze para Portuga nos Jogos Paraolímpicos de Rio de Janeiro 2016, a segunda em boccia. A anterior foi ganha pela equipa portuguesa na categoria BC1/BC2.

Macedo conquistou as suas primeiras medalhas há vinte anos em Atlanta 1996, com dois ouros na categoria BC1 pares e BC1 individual.
Em Sideney 2000, obtém a sua terceira medalha de ouro na categoria BC3 individual, falhou as medalhas em Atenas 2004 e não esteve presente em Pequim 2008.
Reencontra glória em Londres 2012, com a conquista de ouro em BC3 equipas e bronze frente ao mesmo jogador que agora derrotou: o sul coreano Han Soo Kim.
Esta foi a sua sexta medalha para o seu currículo.
José Carlos Macedo é um dos jogadores mais respeitados no circuito mundial de boccia.

Desde de 1993 que faz parte ininterruptamente da selecção nacional de boccia.
Uma grande vénia a ti, José Carlos Macedo!


A categoria BC3 significa que o atleta não é capaz por si próprio lançar a bola. Necessita de acessórios como calhas e capacetes com ponteiras. Pode ter a ajuda de um assistente para ajustar a cadeira de rodas, arredondar a bola e orientar a calha, mas apenas o pode fazer quando o atleta solicita a sua ajuda.



quinta-feira, 22 de setembro de 2016

um poema de... Ricardo Reis (vem doce Outono)


15:18h; 15:19h; 15:20h; 15:21... Outonoooooooo!!!!




Quando, Lídia, Vier o Nosso Outono

Quando, Lídia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.


Ricardo Reis, in "Odes"


terça-feira, 20 de setembro de 2016

série "Vencedores" - Abílio Valente, António Marques, Cristina Gonçalves e Fernando Ferreira





Depois do terceiro lugar de Luís Gonçalves, nos 400m, categoria T12, foi conquistada a nossa segunda medalha paraolímpica.
No dia 12 de Setembro, o segundo terceiro lugar português foi conquistado em boccia, no formato Equipa que engloba elementos mistos das categorias BC1 e BC2.
Sofrem de paralisia cerebral ou doenças neuromusculares e têm um controlo muito limitado do seu corpo.
De todos os atletas que praticam desporto adaptado, os de boccia, nas diversas categorias são claramente os que mais admiro e carinho sinto.
Eles são um dos maiores exemplos de superação que conheço. Absolutamente inspiradores.


A categoria BC1 - Tem um controlo limitado do tronco. Não consegue impulsionar a cadeira de rodas por si próprio. Devido às suas severas limitações motoras, pode contar com a ajuda de um assistente.
Os assistentes têm por missão ajustar e estabilizar a cadeira de rodas e entregar a bola quando o jogador a pede.

A categoria BC2 significa que tem algum controlo do tronco, consegue separar os dedos e são capazes de movimentar a cadeira de rodas mas com limitações. Pela sua capacidade de mobilidade, nesta categoria a presença de um assistente não é permitida.


Os quatro bronzeados guerreiros do boccia em BC1/ BC2 foram: Abílio Valente, António Marques, Cristina Gonçalves e Fernando Ferreira.
Bravoooooo!!!! :)))


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

um poema de... Ricardo Reis (nos 129 anos do seu nascimento)


Fernando Pessoa quando criou um dos seus heterónimos mais famosos, Ricardo Reis, atribuiu o seu nascimento a 19 de Setembro de 1887. Faria hoje 129 anos.

Dos fabulosos quatro - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares - o poeta do bucolismo e da metafísica não pensada, Alberto Caeiro é de longe o que mais me preenche a alma, mas é no médico erudito e pagão Ricardo Reis que encontro a escrita mais elegante e serena.

Há uma curiosidade em Ricardo Reis. Fernando Pessoa, tal como Álvaro de Campos, não lhe atribuiu a data da sua morte.
José Saramago no seu livro, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ficciona sobre este heterónimo.

O Nobel da Literatura de 1998, coloca no seu livro o heterónimo a sobreviver ao ortónimo. Ricardo Reis em Dezembro de 1935, visita o túmulo de Fernando Pessoa que morreu em 30 de Novembro de 1935.
É depois confrontado com o mundo real, através de diálogos e reflexões com o fantasma de Fernando Pessoa.
Quanto a Ricardo Reis morre, em 1936, o ano da sua morte a que o título se refere, quando este decide partir com o fantasma de Fernando Pessoa.


Se tivesse que escolher apenas um poema de Ricardo Reis seria, para além de qualquer dúvida: Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio 

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


Ricardo Reis, in "Odes"



série "estatísticas da vida" - CXCII



Aceito. Parece-me justo.  :)