quarta-feira, 18 de outubro de 2017

cento e seis vidas depois


As lições de Pedrogão Grande foram aprendidas, não se poderá repetir, disseram eles.
As falhas de comunicação do Siresp não podem voltar acontecer, disseram eles.
As entidades responsáveis pelo combate ao fogo vão-se coordenar mais eficazmente, disseram eles.
A ocorrência deste incêndio estava circunscrito geograficamente, disseram eles.
As condições climatéricas eram muito adversas e excepcionais, disseram
O incêndio de Pedrogão Grande causou 64 mortos.

Neste fim de tudo o que foi dito não aconteceu.
Não foram aprendidas lições nenhumas de Pedrogão Grande, o Siresp voltou a falhar, e todas entidades, os meios de combate ao incêndio estiveram descoordenados e as condições climatéricas excepcionais mantiveram-se... excepcionais.

A quantidade de meios disponíveis, (veículos, meios aéreos e prontidão de homens) estavam reduzidos em cerca de quarenta por cento, por força de o Ministério da Administração Interna (MAI) ter declarado que a fase Charlie não seria prolongada e esta daria lugar à Delta. E assim entrou-se Outubro.

No fim de semana passado deflagraram mais de 500 fogos em várias zonas do país. O resultado deles é triste e devastador. Para além de cinzas em cima de cinzas, quarenta e uma vidas foram ceifadas, largas centenas de animais perderam as suas, dezenas de casas destruídas, várias fábricas ardidas, muitos empregos desapareceram e a subsistência das populações está em risco.

Em quatro meses perderam-se 105 vidas.
António Costa afirmou que se vão viver seguramente mais situações como esta porque esta condições vão-se manter nos próximo anos.
O secretário de estado do MAI, Jorge Gomes, disse que as populações não podiam estar sempre à espera que os bombeiros acorrem-se aos locais, que estas fossem mais pro-activas.
Como se todos os dias não víssemos as pessoas ajuda-los e apagar fogos com o que têm à mão.

Finalmente, quatro meses depois, mais de uma centena de vidas perdidas e doze horas depois de um ralhete ríspido e incisivo por parte do Presidente da República, como nunca antes o tinha feito, o primeiro-ministro deixa a ministra do MAI, Constança Urbano de Sousa, demitir-se.
Esta já o tinha querido fazer por duas vezes e Costa não aceitou.
Precisamente há quatro meses, precisamente há sessenta e quatro vidas.




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